domingo, 18 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Se eu pudesse reviver apenas um dia da minha vida decerto retornaria a uma manhã de Natal da minha infância. Não é saudosismo, apenas esperança...
Que os homens vivam com a leveza de um menino a olhar o mundo como uma grande aventura, transformando o coração no palco sagrado onde se encenam contos de fadas;
Que os nossos corações partidos nutram o solo, adubando o terreno do nosso espírito para colheitas de sorrisos e odes à vida;
Que os homens não desistam dos seus semelhantes, porque quando desistimos uns dos outros estamos abdicando de Deus e das nossas asas;
Que os nossos meninos não se percam na bestialização cotidiana que aflora em nossa pele sob a forma de lágrimas e que possam ainda brincar para mudar o mundo;
Que a nossa ideologia mais pueril não esmoreça ante a indiferença dos adultos e que o mundo não se perca sob a maldade dos adultos.
           
Que sejamos crianças! Que sejamos felizes! Que façamos os outros felizes!

sábado, 3 de setembro de 2011

Cult Malogrado

Os críticos literários são tão importantes pra mim quanto os meus poemas e o meu livro são importantes pra eles, ou seja, reduzindo nossas "importâncias" a uma equação matemática, anulam-se. E vida que segue, pois, como disse Sêneca, os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar. Prefiro seguir em frente, seja minha arte adorada ou apedrejada por intelectuais e/ou pseudointelectuais de plantão.

Nos melhores dias da arte não existiam críticos de arte, mas desconfio que esta frase de Oscar Wilde seja uma mentira, uma vez que o primeiro crítico de arte surgiu há milhares de anos, quando um sujeito, acho que um homem de Neandertal, rabiscou o desenho feito por um amigo na parede de uma caverna.

Mas, para a nossa sorte, a grande magia da literatura acontece entre escritor e leitor, e digo isso como escritor e, principalmente, como leitor. Faça-se luz e não deixemos a escuridão da soberba e da arrogância silenciar a beleza de um contos de fadas ou de uma história mortal que deixará de existir logo depois de contada! Não é a imortalidade do livro que nos toca, mas a intensidade com que acaricia o nosso coração!

terça-feira, 14 de junho de 2011

O olhar e o mar

Teu olhar bravio como uma nau
Em meio à fúria de Poseidon
Não tocou uma ilha de paz sequer
E, alumiado pela ausência dos faróis,
Acariciou recife de corais
Enquanto tateava em vão
O grande azul, lar de marujos,
E via mar e céu numa só linha
Como se a vida fosse retilínea,
Como se a qualquer momento
Ela não fechasse os teus olhos para sempre.

E hoje as retinas são mares de lágrimas
Em outros olhares, como oceanos tempestuosos na alma,
Enquanto a calmaria absorve o teu corpo
Sete palmos distantes do mar.

E as ondas continuarão beijando a areia da praia
Como se nada tivesse acontecido...
Apenas mais um olhar encontrou a escuridão da inexistência.

* 6º lugar e Menção Honrosa no XXVI Concurso de Poesia Brasil dos Reis (Angra dos Reis/RJ)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

À Castro Alves

Nesses navios de pele negra, branca,
Fria pele, áspera...
Nesses navios...
Substrução corroída!
Nesses navios negreiros multicoloridos
Que navegam pela vala da indiferença
E da miséria,
Aportando nas margens da desesperança,
Recrutando guetos e senzalas...

Nesses navios de pele mulata, amarela,
Gélida pele, árida...
Nesses navios...
Telha-vã apedrejada!
Nesses navios fantasmas que navegam
Como se o passado Não passasse de meia hora,
Como se o chicote ainda fosse ao céu
E caísse como um raio na alma,
Como se fizéssemos papel higiênico
Das áureas leis da República...

Nesses navios...
Versos de Castro ainda escorrem em sangue,
Ainda vivem...
No tronco, nas lágrimas,
Nas costas putrefatas, na dor tatuada...
Nesses navios...
Mil anos passam sob mil noites...
Açoite, açoite, açoite cruel!
As ruas viram senzalas...
“Dá in diferença!”,“Cinqüenta chibatadas!”...
E o céu, à noite, sem luminosa,
Reflete a atualidade em essência,
Almas escuras, verdade tão clara...