sexta-feira, 5 de abril de 2013

Mitologia Íntima


Pouso a noite, sepulcro da eternidade,
Sobre minhas retinas suadas,
E miro em Órion e em horóscopos luminares,
Tateando em vão alguma luz em meu espírito
Tocado há muito pela solidão
De um Hades em meu peito.

Tomo a taça como uma dama:
Um beijo quente em suas bordas molhadas,
E sinto seu tinto batom em meus lábios...
Eu, o filho de Baco e de leviatãs nublados,
Desertor de doze trabalhos maçantes,
Retirante de Asgard,
Cambaleante entre os frígidos dias capitalistas
E as afrodites noites a me embebedar
Da tua ausência poética...
Eu, o nobre soturno,
Admoestado por uma horda de demônios
Na odisseia dantesca em que navego,
Perdido em bússolas desnorteadas
E redemoinhos que me afogam em mim mesmo.

Por Zeus do céu,
Sou um ciclope cego no labirinto mundano,
Sem deuses ou heróis, sem divindade ou heroísmo,
Beijando Gaia em cada queda diária, sem Olimpo,
Amando Nix como um filme de Tinto Brass,
Desalmando cada gozo em frenesi frívolo,
Bailando com ninfas a preços vis nas esquinas.

Por Deus
(Talvez o maior dos mitos seja Este),
Minha crença cadavérica abraça Seth
E mergulha noite adentro nos subterrâneos
Em que Cilas de quadris vorazes
Comem minha alma sem cura
E expelem o que resta de mim
Sobre uma cama solitária.