sábado, 26 de janeiro de 2013

Pare o mundo que eu quero descer!

Saudoso Raul, mas quero falar do Renato Russo...

Olhando o blog da Yvonne Maggie na Globo.com (aqui), deparei-me com aberrações que me fazem vomitar (santo Plasil), lâminas afiadas que fazem meu espírito sangrar (santo Rivotril). Não tanto pela postagem, mas principalmente pelos comentários dos leitores.

"Se começar a tratar dependente químico como doente, daqui a pouco vão exigir um Cartão Dependente Químico”, escreveu uma leitora. "Se o viciado decidiu se viciar, problema dele", escreveu outro. Para completar, um terceiro veio e me deu um soco no estômago: "Se o Estado gasta dinheiro público com a saúde de quem não deseja ser saudavel, com que verba vai investir em saúde e educação para os homens e mulheres de bem?"

Li dezoito comentários e todos seguiram o mesmo tom de "foda-se o viciado", como se quisessem passar com o carro por cima usuários de crack na Avenida Brasil a fim de limpar a cidade. Foi impossível não me lembrar do Renato: "E há tempos são os jovens que adoecem / E há tempos o encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / Que só o acaso estende os braços / A quem procura abrigo e proteção" (Há Tempos - Legião Urbana).

Se o Estado não der abrigo e proteção, se o Estado não devolver o encanto e limpar a ferrugem dos sorrisos dos nossos filhos, irmãos e pais viciados, se o Estado não pedir desculpas por anos, anos e anos de desamparo, se o Estado não se redimir por mais de cem anos de abandono depois da Lei Áurea, o que nos resta? Deus? Mas "nem o santos têm ao certo a medida da maldade", cantava o Trovador Solitário. Se o Estado não protege e defende o seu povo (todo o povo), para que serve o Estado?

Hoje eu aprendi uma lição importante: antes que o Rivotril faça efeito, rezarei pelos ditos "homens e mulheres de bem". Eles também precisam de ajuda.

"Parece cocaína, mas é só tristeza". Talvez seja isso.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Uma questão de valor

Era tudo tão mais simples, tão mais vivo: sorríamos descompromissados, abraçávamos nossos iguais, bebíamos um vinho barato em banquete, sentíamos o gosto do asfalto em nossos pés e o beijo da liberdade em nossos lábios.

Mas fomos nos perdendo aos poucos... Um emprego aqui, um terno ali, um cartão de crédito num mês, noutro um carro... E quando nos demos conta, o passado nos pareceu tão pobre.

Agora nossas conversas são destiladas de números, lucros, imóveis... Inebriantes! Nossos sonhos deram lugar à ganância; nosso adjetivo preferido é "rico"; e nossos abraços e sorrisos se tornaram mais uma arma na busca pelo sucesso nos corredores de alguma grande corporação.

****

- Arromba logo esse cofre!
- Calma... Tá indo, tá indo - respondeu o outro bandido.
- Quer que eu faça?
- Não... Consegui!
- Coloca tudo na bolsa e vamos dar o fora!
- Porra!
- O que foi?
- Só tem foto... Merda!
- Não tem dinheiro, jóias, dólares?
- Não! Só umas fotos velhas...

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Fragmentos Noturnos

Os primeiros comentários acerca do livro FRAGMENTOS NOTURNOS foram positivos. Para ilustrar, seguem as palavras do escritor Carlos Trigueiro: "Sua poesia é direta, sem rodeios, porém com metáforas fortes."


Abaixo, alguns fragmentos destacados por leitores:

"Embebedamo-nos do tempo em fria noite.
Na manhã seguinte, a ressaca: a morte."
(fragmento V)

"Não me bastam as estrelas,
Abraço também o oceano escuro entre elas."
(fragmento XXV)

"Navios negreiros pelos valões!
Camburões
     De senzalas pelas avenidas!
Televisões
     De acéfalos pelos sofás!
Calmarias ideológicas pelas eleições!"
(fragmento LIV)

"Rabisco os muros da sociedade,
     Mas indiferentes seguem seus transeuntes encoleirados,
     Pequenos cães de madame,
     Abanando o rabo,
          Sorrindo docilidade e idiotice!"
(fragmento LVI)