sábado, 27 de setembro de 2014

O Tempo



As ruas são as mesmas, as árvores são as mesmas, até o asfalto deve ser mesmo. Mas há algo estranho no ar: a vizinha fofoqueira do 75 não está com sua cadeira azul na calçada; o menino gordo de óculos emagreceu e agora faz sucesso e barulho com sua potente motocicleta - ele era mais simpático quando era gordo; o boteco da esquina que infernizava os vizinhos com as serestas de sexta se tornou uma igreja evangélica, incomodando os vizinhos todos os dias; Sarney, o vira-latas, não está mais em frente à oficina... Nem oficina existe mais, agora é um depósito clandestino para botijões de gás. E eu me olho no espelho, o mesmo espelho com uma rachadura na parte inferior, mas a imagem é diferente.