Pouso a noite, sepulcro da
eternidade,
Sobre minhas retinas suadas,
E miro em Órion e em horóscopos
luminares,
Tateando em vão alguma luz em meu
espírito
Tocado há muito pela solidão
De um Hades em meu peito.
Tomo a taça como uma dama:
Um beijo quente em suas bordas
molhadas,
E sinto seu tinto batom em meus
lábios...
Eu, o filho de Baco e de leviatãs
nublados,
Desertor de doze trabalhos
maçantes,
Retirante de Asgard,
Cambaleante entre os frígidos
dias capitalistas
E as afrodites noites a me embebedar
Da tua ausência poética...
Eu, o nobre soturno,
Admoestado por uma horda de
demônios
Na odisseia dantesca em que
navego,
Perdido em bússolas desnorteadas
E redemoinhos que me afogam em
mim mesmo.
Por Zeus do céu,
Sou um ciclope cego no labirinto
mundano,
Sem deuses ou heróis, sem
divindade ou heroísmo,
Beijando Gaia em cada queda
diária, sem Olimpo,
Amando Nix como um filme de Tinto
Brass,
Desalmando cada gozo em frenesi
frívolo,
Bailando com ninfas a preços vis
nas esquinas.
Por Deus
(Talvez o maior dos mitos seja
Este),
Minha crença cadavérica abraça
Seth
E mergulha noite adentro nos
subterrâneos
Em que Cilas de quadris vorazes
Comem minha alma sem cura
E expelem o que resta de mim
Sobre uma cama solitária.