sexta-feira, 13 de maio de 2011

À Castro Alves

Nesses navios de pele negra, branca,
Fria pele, áspera...
Nesses navios...
Substrução corroída!
Nesses navios negreiros multicoloridos
Que navegam pela vala da indiferença
E da miséria,
Aportando nas margens da desesperança,
Recrutando guetos e senzalas...

Nesses navios de pele mulata, amarela,
Gélida pele, árida...
Nesses navios...
Telha-vã apedrejada!
Nesses navios fantasmas que navegam
Como se o passado Não passasse de meia hora,
Como se o chicote ainda fosse ao céu
E caísse como um raio na alma,
Como se fizéssemos papel higiênico
Das áureas leis da República...

Nesses navios...
Versos de Castro ainda escorrem em sangue,
Ainda vivem...
No tronco, nas lágrimas,
Nas costas putrefatas, na dor tatuada...
Nesses navios...
Mil anos passam sob mil noites...
Açoite, açoite, açoite cruel!
As ruas viram senzalas...
“Dá in diferença!”,“Cinqüenta chibatadas!”...
E o céu, à noite, sem luminosa,
Reflete a atualidade em essência,
Almas escuras, verdade tão clara...

6 comentários:

Aurélio disse...

Belo poema amigo.

Anônimo disse...

Poema de grande força e beleza. Abraço, Fábio.

Gustavo disse...

Belo poema! Belíssimo!!!

Amadeus disse...

Gostei muit. Abraço

Rita disse...

Poema de extrema força e sensibilidade. Parabéns.

Fábio disse...

Ficou muito bom esse poema. Abraço.